domingo, 3 de novembro de 2013

Ser e não ter...

Há alguns dias escutei uma reportagem realizada com um educador brasileiro sobre a importância do ensino na vida das pessoas. A abordagem foi interessante, pois o ensino foi analisado sob o ponto de vista mais amplo de “educação”. Um dos aspe
ctos abordados foi exatamente a diferente forma de concepção sobre o que é o ensino educacional nas escolas brasileiras.
O educador em questão destacou a incoerência em que vive o ensino brasileiro no momento, moldando-se cada vez mais ao modelo social dominante no mundo, ou seja, aquele em que o nosso valor corresponde ao que temos, mais especificamente em bens materiais. Se a pessoa é considerada bem sucedida não pelo conhecimento que possui e pela sabedoria, mas sim pelos bens materiais que consegue conquistar, o ensino foi se moldando de forma a atender esta necessidade de muitas pessoas. Ou seja, ajustou-se a causa para atender ao efeito desejado.

A questão central é que justamente o ensino é que deve ser adequado de forma que possibilite às pessoas adquirir um conjunto de valores mais amplos. A opção pelo modo como quer conduzir sua vida cabe a cada pessoa, mas é urgente que ao optar as pessoas tenham um conjunto de valores e contrapontos que subsidiem a sua decisão. Hoje a opção não existe, pois as crianças e jovens são ensinados a se ajustar ao modelo social estabelecido. Qual o papel que a educação está exercendo então? Está colaborando a tornar ainda maior o abismo existente entre as diferentes classes sociais? Está incutindo a ideia de que na vida estamos em uma grande competição? Precisamos ser melhores do que os outros para termos o nosso lugar ao sol? Certamente os grandes filósofos antigos estariam de “queixo caído” se pudessem observar como funciona a engrenagem da nossa atual sociedade.
Mas, voltando à reportagem que mencionei, o educador afirmou que o Brasil começa agora a realizar uma mudança na esfera do ensino público, decorrente de pesquisas que revelaram que o melhor aproveitamento do ensino ocorre com pessoas que possuem um aspecto em comum, apesar de pertencerem a classes sociais diferentes: trata-se do conjunto de valores que estes alunos trazem consigo para dentro do ambiente escolar, influenciados pelo grupo social em que vivem e pela família. Nada de surpreendente na conclusão da pesquisa; fiquei até surpreso de que fora necessário uma pesquisa ampla para que se tivesse esta percepção.
No entanto, o que deve ser destacado é que percebeu-se que a escola não está atuando naquilo que seria uma função primordial: atuar na formação ética dos alunos, oferecendo a oportunidade de que os principais valores sociais lhes sejam apresentados e por eles compreendidos. Mas, como diz aquele dito popular “antes tarde do que nunca”. Acredito que se deva elogiar esta iniciativa do ensino público e torcer para que o ensino privado também se preocupe com iniciativa semelhante, trazendo de volta ao mundo, quem sabe, algumas figuras semelhantes ao que era a antiga “intelectualidade”.
A questão não é de fácil solução, pois está incutido no dia a dia das pessoas a ideia de competição, de possuir mais. Pare e reflita que os jogos, desde os infantis até os adultos disponibilizados nas redes sociais, sempre possuem o objetivo de acumular posses, seja do tipo que for, mas a ideia central é o possuir mais. Ao mesmo tempo em que estamos cada vez mais ligados ao mundo, estamos mais distantes das pessoas de verdade.
É preciso que em nosso meio sejamos também agentes dessa mudança.

Enfim...coisas que passam...que compartilho com vocês.

Frase pulsante da semana: “Cada coisa tem o seu valor; ser humano, porém, tem dignidade!” (Kant)

2 comentários:

  1. é o ser humano perdido entre a causa e efeito, bom texto

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  2. E que ética parece ser uma coisa simples de se aplicar mais não é dá muito trabalho. Por isso é que se precisa repetir várias vezes é fácil esquecer.
    Abraços.

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