domingo, 12 de abril de 2015

Família e Sociedade

José Malhoa
Esta postagem foi motivada por um questionamento realizado por um amigo, e refere-se à relação entre sociedade e família. A história da humanidade registra ao longo de sua existência a importância e o significado da relação entre “agrupamentos” e a sociedade como um todo. Enquanto para alguns a busca da vida em sociedade é uma característica da natureza do homem, outros compreendem esta relação de forma diversa, mas o fato é que ao longo da história a formação do núcleo familiar teve seu papel na construção de um mundo em que se buscava um maior equilíbrio, a instituição de algumas regras e valores que nos permitissem viver civilizadamente.
 
E assim, os modelos de famílias foram se moldando de formas distintas ao longo dos tempos, passando por transformações que procuravam ajustar esse modelo aos conceitos do homem no seu tempo e aos conceitos da sociedade. Indiscutivelmente, assim como a sociedade influenciou significativamente a formação destes modelos familiares, os valores familiares também influenciaram na forma das sociedades. Em meu modo de ver, a influência da família na sociedade se dá de forma mais significativa através dos costumes e valores morais ensinados e cultivados no seio familiar e que posteriormente cada um de seus participantes levará à sociedade no momento em que ingressar neste convívio. Entendo ainda que a importância da família em influenciar a sociedade deva estar acima do poder da sociedade sobre o núcleo familiar.  É a partir de valores familiares bem definidos e constituídos que se aprimora o modelo social. Afinal, a família pode ser considerado como o primeiro “meio social” em que somos inseridos e portanto onde os valores podem ser definidos com uma menor influência do que no âmbito de uma sociedade formada por um conjunto de valores extremamente heterogêneos.
No entanto, atualmente parece-me que a relação está invertida, ou seja, a sociedade está influenciando em demasia o âmbito familiar, lançando neste núcleo um conjunto de valores e condutas as quais as pessoas estão simplesmente incorporando ao seu modelo familiar, sem o devido questionamento. Parece que a exposição da família a um modelo midiático moderno, a um meio em que redes sociais estão substituindo relações sociais, tem fragilizado o processo crítico em relação aos valores a serem incorporados no núcleo familiar. Sem dúvida, o excesso de informação, apesar de abrir um leque de oportunidades para novos conhecimentos, também fragilizou o processo analítico e crítico em relação à maioria das pessoas. E isto tem contribuído para que incorporemos uma série de conceitos e práticas em nossos modelos sem o devido questionamento quanto aos seus valores.
É preciso parar um pouco, olhar ao nosso redor, perceber como realmente é o mundo, a sociedade e a família atualmente e avaliar se temos feito bom uso dessa interminável quantidade de informações, se a velocidade com que estamos tentando levar nossas vidas está nos permitindo ver e perceber os nossos atos e suas consequências. O que me parece é que estamos cada dia mais distantes de termos um mundo melhor, uma sociedade mais justa. E isto me parece incoerente quando a informação e os valores que sustentam uma sociedade de forma harmônica poderiam alcançar a todos em questões de segundos. De nada adianta uma multidão de pessoas com nobres sentimentos e objetivos se não conseguimos conviver de forma adequada. E isto deve ser aprendido por nós no núcleo familiar para que cada um de nós possa levar estes valores ao meio social em que vivemos, onde a partir desse equilíbrio poderemos de fato realizar as mudanças que nos levem a um modelo social mais justo e harmonioso.
 
Enfim, coisas que passam, que compartilho com vocês.
 
Frase pulsante da semana: "Toda a doutrina social que visa destruir a família é má, e para mais inaplicável. Quando se decompõe uma sociedade, o que se acha como resíduo final não é o indivíduo mas sim a família". (Victor Hugo)

Até a próxima segunda-feira!

4 comentários:

  1. Muito boa analise e reflexão desta relação critica família e sociedade.
    É verdade esta perda de sintonia entre uma e outra e neste vazio nasce esta inquietação, que tem tornado viver em sociedade uma coisa mais complexa. A família é o ponto primário de toda esta interação e se esta falha a sociedade paga um preço alto. Em contraste a evolução das informações não tem conseguido estreitar este elo, que nos faria alimentar o sonho de um mundo melhor, mais justo e igual de condições para todos. Estamos nos distanciando ou criando grupos isolados.
    Parabéns pela ótima postagem para uma reflexão profunda e sem dor.
    Um abração amigo.

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    1. Toninho,
      Agradeço novamente sua visita. É isto mesmo, a vida nos coloca sempre novos desafios. Parece ser o caminho natural da vida.
      Um abraço!

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  2. Olá, Rafael.
    Muito interessante, esta análise.
    No meu pós-mestrado em arquitectura frequentei um mini-curso de sociologia, que começava exactamente por este tema.
    É verdade que a família, hoje, é completamente diferente de quando eu era criança, há apenas 50 anos (ainda não tenho 60). Portanto, em meio século, os valores alteraram-se completamente. Influência dos tempos, dizem alguns; consequência da globalização, afirmam outros. E ainda... é o preço a pagar pelo progresso... Eu diria que é motivado por um pouco de tudo isto.

    Continuação de boa semana.
    Um abraço
    MIGUEL / ÉS A MINHA DEUSA

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  3. Miguel, agradecendo sua visita e seu comentário, concordo com você. E assim sempre será, cabendo a nós o desafio de compreendermos o que está acontecendo.
    Um abraço!

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