segunda-feira, 26 de março de 2012

Arte e Filosofia: elocubrações do pensamento

        Francis Bacon                                                                                Por Rafael Ebeling
 Na tentativa de fundamentar a Teoria do Conhecimento, Descartes utiliza o argumento do Cogito, amparado no Princípio da Dúvida. No seu estudo, ele rejeita e descarta os sentidos externo e interno como fundamentos do conhecimento, valendo-se dos argumentos do “erro dos sentidos” e do “sonho”. Ou seja, uma sensação, mesmo real, pode não corresponder à verdade, pois existe a possibilidade de sermos induzidos pelos nossos desejos ou até mesmo por falhas no sentido. Com isto, refuta totalmente a tese de Aristóteles, de que a sensação é fundamento para o conhecimento. Porém, considera Descartes que na busca do conhecimento, mesmo que haja a falha dos sentidos, o fato é que existiu o pensamento. Com isto, mostra que é necessário intuir o pensamento e a existência de uma forma unificada, logo, o sujeito é uma necessidade do pensamento.
Mas meu objetivo aqui não é questionar os estudos e conceitos destes grandes pensadores. Valho-me dos argumentos acima para tentar compreender que o homem, por natureza, está sempre em busca de novos conhecimentos: o pensamento também é uma necessidade do sujeito. No entanto, esta busca nem sempre está relacionada com a verdade, pois como as sensações, impressões e sentidos sempre estão presentes em nossos pensamentos, existe a constante possibilidade do pensamento não produzir conhecimento.
A partir deste conceito, me permiti ingressar na análise do mundo da arte: penso que praticamente todas as obras existentes, independente da época e movimentos aos quais pertencem, são uma forma de manifestação para expor o conhecimento. No entanto, a ausência de sentidos e sensações, bem como a falta de um sentido verdadeiro, podem transformar diversas destas obras em apenas uma manifestação do pensamento; este está ligado apenas ao sujeito, no caso o artista; já o conhecimento, nasce do pensamento do artista, mas torna-se um elemento do saber, e, portanto transcende ao ato da criação da obra.
Talvez estes dilemas da filosofia possam nos ajudar a compreender certos fatos, como por exemplo, o ocorrido em São Paulo esta semana, quando, a partir de uma denúncia popular, os órgãos responsáveis pela manutenção e conservação das vias públicas providenciaram a retirada de uma “obra de arte” das ruas da cidade: tratava-se de um veículo velho, em precário estado de conservação, com plantas brotando do seu interior – uma instalação que, na visão do artista, era uma manifestação cultural denunciando algo ao expectador. Se um destes expectadores solicitou ao órgão público a retirada de “lixo”, constatamos que a percepção e sentidos diferem de pessoa para pessoa, mesmo diante de um mesmo fato – diria que o pensamento manifestado pelo artista não se transformou em conhecimento, pois as percepções do artista não foram verdadeiras para o expectador.
Poderia isto explicar a crescente quantidade de “obras” incompreensíveis que surgem no mundo da arte atualmente? Decorre a aceitação destas obras de uma aproximação de percepções dos artistas e expectadores?

Enfim...coisas que passam...que compartilho com vocês.

Frase pulsante da semana:
"A arte é um caminho que leva a regiões que o tempo e o espaço não regem; ela é o território do existencial, o abrigo poético onde pulsa a existência; é a irracionalidade do inconsciente manifestada, é o desejo de revelar algo que ainda não é. "
(Marcel Duchamp)


Até segunda-feira que vem

Cérebro Que Pulsa.

2 comentários:

  1. Olá! á todos

    No texto a uma parte que diz assim: "Existe a possibilidade do pensamento não produzir conhecimento".
    Gostaría de comentar essa frase com outra: Olham o que diz João Damasceno sobre o conhecimento: "Se assim cavarmos depararemos o tesouro do conhecimento e teremos riqueza em abundância, procuremos, examinemos, perguntemos pois quem pede recebe quem procura encontra e a quem bate abri-se-lhe-á".


    Abraços; muito legal á sua idéia.

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  2. Olá a todos estou aqui novamente para agradecer os acessos e o autor da semana; gostaría de ratificar que todos podem mandar idéias ou até mesmo escrever o artigo semanal.

    Até segunda-feira.

    Cérebro Que Pulsa.

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